Minha terra tem Ipê
Onde pousa a juriti
Lá tive medo de morrer
Por isso fugi pra aqui
Minha terra tem Ipês
Devastados pela soja
Minha terra, se bem vês
Quem domina é uma corja
Quem andar sozinho à noite
Logo é preso - vagabundo!
E quem quer que se afoite
Logo sente a dor do mundo.
Minha terra teve Ipê
Em que cantava, que sei eu?
Noutros tempos menos tortos
O pássaro que já morreu.
Do romântico Gonçalves Dias
Me sobrou essa canção
Com as mãos nos bolsos frias
Sinto medo e solidão.
01/11/2018
28/10/2018
Rosa dos tempos
L’amour c’est l’homme inachevé.
(Paul Éluard)
são belos os olhos que vêem
(Paul Éluard)
são belos os olhos que vêem
o amor semeia nas gretas e engrenagens
um visco brilhante anunciando
o beijo do tempo.
são belas as mãos que laboram
e seguro:
o amor brota nas pedras e préstimos
um gesto amigo saudando
o abraço da terra.
são belas as bocas que falam
e digo:
o amor - botão disforme e firme
tem cor de gente e sabe
o toque que o gesta
são belas as ventas que aspiram
e sinto:
o amor floresce no outro e na hora
cheira à mudança e resiste
o gosto da espera.
05/10/2018
Cuiabá Hora Cero
o ganido das sirenes
a lona escura cobrindo a cidade
salpicada de luzes artificiais da energisa imitando estrelas
intangíveis como a paz
o ruído morno dos eletrodomésticos
que chiam rompendo o silêncio
imposto pelas circunstâncias
e os despojos que deixamos
e se arrastam pelos anos:
o amor que não houve,
os amigos que partiram,
o medo do futuro que nos espreita
ali da esquina
e nos convence que não há futuro
sobrevivo às intempéries
às dinastias da tristeza
que sempre me rondam
e firme não me entrego
embora a ferida coce e a cicatriz
de todas as batalhas
as perdidas e as ganhas
já desfigurem esse resto de corpo
essa massa no espaço
significado & significante
enunciado perdido nesse ambiente de 30m2
e um poema já não cabe em lugar algum além da boca do poeta
mas arrancaram-me a língua dos meus antepassados
sozinho, as mãos sujas,
reescrevo a história que é ser gente.
a lona escura cobrindo a cidade
salpicada de luzes artificiais da energisa imitando estrelas
intangíveis como a paz
o ruído morno dos eletrodomésticos
que chiam rompendo o silêncio
imposto pelas circunstâncias
e os despojos que deixamos
e se arrastam pelos anos:
o amor que não houve,
os amigos que partiram,
o medo do futuro que nos espreita
ali da esquina
e nos convence que não há futuro
sobrevivo às intempéries
às dinastias da tristeza
que sempre me rondam
e firme não me entrego
embora a ferida coce e a cicatriz
de todas as batalhas
as perdidas e as ganhas
já desfigurem esse resto de corpo
essa massa no espaço
significado & significante
enunciado perdido nesse ambiente de 30m2
e um poema já não cabe em lugar algum além da boca do poeta
mas arrancaram-me a língua dos meus antepassados
sozinho, as mãos sujas,
reescrevo a história que é ser gente.
21/08/2018
inútil paisagem
guardo, no alforje da memória,
um poema nunca escrito.
e como poderia escrevê-lo
se se abate a noite sobre o halo
das circunstâncias?
lavo as mãos, sujas de pó de estrelas:
para ser poeta não bastam mais as palavras
para ser gente é preciso sufocar o que nos tange
e seguir adiante
pé ante pé
como se o ruído dos versos
não fosse tão alto
como o mais profundo adeus.
um poema nunca escrito.
e como poderia escrevê-lo
se se abate a noite sobre o halo
das circunstâncias?
lavo as mãos, sujas de pó de estrelas:
para ser poeta não bastam mais as palavras
para ser gente é preciso sufocar o que nos tange
e seguir adiante
pé ante pé
como se o ruído dos versos
não fosse tão alto
como o mais profundo adeus.
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