08/04/2020

Mil e tantas noites

silêncio na city:
na rua, só a rouquidão das motos
- entregadores de apps que nunca dormem -
e o latido dos cães
(certamente conversam entre si,
já que todos os seres têm algo a dizer)
laceram a noite.

mas aqui dentro uma orquestra
de quase imperceptíveis sonidos
me coloca no meu lugar no mundo
- sou o que sou e estou bem aqui
entre pensamentos e palavras
entre emoções e desejos

no interior do brasil
numa capital provinciana
meu coração naturalmente preocupado
ouve as notícias internacionais
e se consterna.

em quarentena
forçada pelas condições socioambientais
o quase poeta que habita em mim 
olha pela sacada 
as gentes mascaradas
os cuidados com a saúde
- a morte, que embala e nina
as gentes com nome e história...

é tarde, madrugada.
neste tempo
neste país
algum espectro terrível e monocórdico
nos dá sempre o mesmo tom
e as horas parecem sempre ser as mesmas
esgarçando, fio a fio, o destino da alegria.