A poesia não sabe o quanto te devemos.
(Rui Costa)
trabalhava e já ia parte da manhã
no expediente na repartição
entre um café e uma demanda
um relatório e mais um gole
quando li pela primeira vez
num perfil de rede social
versos de rui costa
anos atrás
precisamente vinte
jamais eu saberia de rui costa
poeta em Porto
que deixou o mundo à deriva cedo demais
sei de rui costa por causa da internet e do
bar do acaso - a pausa no expediente a exasperação do serviço
técnico burocrata o modo de vida produtivista ao qual somos submetidos
arrochados até sermos exauridos - que me deixou em vias de escrever um poema
(que não era esse e nem hoje e que ficou guardado na memória enquanto produzo planos de ação preencho planilhas no excel alimento sistema)
daqui do meu lugar, no interior dum brasil que dá notícias de que nunca chegará a lugar algum
carrego os versos de rui costa num smartphone
e rememoro a poesia que me livra da vida de todo dia