16/02/2015

Sonho de um delírio

eu sou onde me caibo:
no espaço anunciado de agora
&
nas umbrosas possibilidades do tempo

estou no que posso ser:
uns braços flácidos
nome rg
indicando que existo
como tantos outros

aconteço no mundo
carrego meus fardos
dolorosos que nem a
morte dos sonhos de infância
e continuo firme e forte
são e salvo

convivo com o que me falta
(a areia dos dias
desliza pelos meus dedos)
e participo dessa fantástica
experiência que é estar vivo

nos diâmetros das minhas palavras
há a tristeza contemplativa
das coisas que se perderam

e fico
firme e forte
são e salvo.



14/02/2015

Caracol

como casa
abrigo-me em ti:
estatura mediana
olhos de noite
e teus cabelos
caracol
em teus cantos

no teu plexo
(convém abri-lo)
eu me perco
-não vou me encontrar
e deslizo
menino

como casa:
trago-te para onde estou
trago-te inteira
num gole só
eu me deixo
eu me seguro

- estrangeiro

faço caso.
te faças moradia
que eu chego
deixa eu ser,
caracol

e bora.

01/02/2015

Canto em teu corpo

insiro-te na noite
no enlevo de sombras
que te anunciam
mas não és velada:
protejo-te
como um caibro
sustentando nossas permanências
e nossa matéria com gosto de tempo

(a delicada voz que de ti emana
e emancipa meu amor)

dispo-me logo que chega o dia
para que me vejas
teu, corpo ígneo
flamejando à tua espera
para que me sejas
canto
e paixão

(e onde há tua sílaba, monódico meu peito
te conclui)