16/02/2019

antipoema.

Estou farto do lirismo, Bandeira.
Aqui quem fala é o primo pobre, mais um sobrevivente
desse século, de segunda
década
em que se atropela de barbarismos
que não são vícios de linguagem
senão matéria viva e observável.

Até agora eu não achei a chave, Drummond.
Engolida pela Justiça,
que prende como quer
(na muralha, em pé, mais um cidadão José.)
deve ter entrado pelo cano
e agora, o que será da palavra?

Não vim ao mundo catar feijão, João
antes: eu nego o poema
quero a antipoesia
(eu era a carne, agora sou a própria navalha!)
o que nos consome
em tragédia e silêncio.



03/02/2019

Desabafo

feito lagartixas nos deslizamos
pelas paredes da memória
construída aos trancos e rebocos
os corpos, nossos corpos,
esgarçados, tristes corpos, triste bahia etc
mas keep going e lá vamos nós
chove canivete! e lá vamos nós
bruma no horizonte: lá vamos:
clarão que se procura

e tá ali, ó, pelos poros
o sinal dos tempos
nosso grito adormecido
meus 32 dentes ecoando
a fúria que virá

(-Eu também não queria ser o poeta de um mundo caduco
mas vou fazer o quê?)

o que sobrar de nós: um pastiche pra comer com pão.