Ao Moisés Carlos de Amorim
em noites de intenso calor
quando o mormaço impede o sono
leio uns poemas que me ajudam a sonhar
e penso na mulher
- que eu ainda não amo
e penso no amanhã
- que eu ainda não vejo
e vislumbro surgir no espaço das horas
todos os verbos que não escrevi.
de minha janela gradeada
por onde passa o vento morno
e os incólumes desejos
olho as casas
- e seus telhados de amianto
olho os prédios
- e suas luzes fluorescentes
e imagino o dia em que serei velho
como as palavras que admiro e decoro.
nesse intervalo entre o eu e o tu
é que se esgueira a poesia
salpicada de sentido
e o poeta sente o dever
de registrar o instante
- que ainda não existe
de perceber o afeto
- que já tenha acabado
e de viver participando das remissões
da vida.