vive dentro de mim uma fera
que ora ruge e me assusta
com sua voz de intempérie
mandando que eu desista
de tudo
e de mim
e de você
e daquilo que nem ainda sei
[se existirá
uma fera em mim:
bicho altivo, cor de ódio
faiscantes olhos iluminando
minha insegurança
meu medo da morte
minha vida medíocre
de poeta e professor
em mim mora um animal
que me mastiga e deglute
e eu viro um pedacinho de nada
palavra calada
verso triste
vez em quando esse bicho
dorme um sono profundo
cansado de tanto se mostrar grande
então eu aproveito
e o prendo de volta bem dentro de mim
(posto que o crio há anos)
e canto-lhe canções de ninar
afagando-lhe os pelos revoltos
com minha poesia e o amor
que trago entre os dedos.