caberá ao poeta deste século
contar a história
do que restar de humanidade:
nas mãos do poeta
a palavra que se escreve
polifônica e inexplicável
captando o mundo que se arruina.
(pululam nos jornais letras mortas
nos noticiários nas leis no rosto
de quem morre a cada dia para se manter vivo há o gosto acre de silêncio e pesar)
é papel do poeta ler a vida
e explicar às futuras gerações
o que nos sucedeu:
como João, também cantaremos
o apocalipse
- não em sonhos e visões,
no cotidiano que se descortina
diariamente.
(fome, guerra, peste e morte em seus cavalos blindados atropelam as gentes todas que insistem em sobreviver)
o que sobra ao poeta
é inventar sua poesia
mas deve se apressar:
amanhã, talvez, as palavras já tenham
abandonado o dicionário
e sobrará só a barbárie
que não pensa em nos deixar.