o último poema que li
foi do amigo e conterrâneo
Carlos de Amorim:
ainda existia esse país
e respirávamos um ar precário
mas singelo.
desde então passo dias e noites
revirando palavras soltas
olhando pra parede estriada
ignorando a louça suja sobre a pia.
forjo agora um novo sentimento
na bigorna do amanhã:
ele corta e coagula
e o meu peito gane
na incerteza do que ainda não é.
e de repente
esses versos que escrevo
encontrarão morada nos livros
bagunçados da estante empoeirada
ou desaparecerão
em meio ao calor enquanto tudo derrete
enquanto tudo parece derreter¹
¹trecho de "calor", de Adriana Calcanhotto (2002)