28/09/2022

Cena II

Adormeço em meus pensamentos

Como uma cama bagunçada

Enredado sonho um tempo diferente

Em que a vida abrigue em suas asas

Um princípio de paz.


Penso muito e logo tenho que existir:

Há o trabalho as contas o acre da terra 

A ser manejada a casa a ser limpa com cada

Coisa em seu lugar

Mas é tempo de homens partidos.


A quem está sujeito

Será necessário recolher os despojos

Do que sobrar de Brasil:

Uma canção meio esquecida/

Um poema não terminado.


É preciso remendar a esperança

Como quem costura uma ideia 

um plano uma rota

Com linha de ferro

Como agulha num palheiro.





26/09/2022

Cena

No varal, as roupas esperam

Não imóveis, tocadas pela brisa noturna

Aguardam que eu as retire

Descansam enquanto escrevo um poema de amor.

Mas não ouso, pois rasgo

Os poemas, as roupas jamais

Também eu não estou imobilizado:

Agitam-se em mim os pensamentos

Que não dissipo, reverbero.

Haverá um tempo de completa mudança

Não hoje não logo não sei:

Meus versos são inquietos

Como as roupas e o que penso.

Preso à minha classe e algumas roupas

Me custa caro ser brasileiro

E eu custo a ser eu.

03/04/2022

tsc

você que vá 
disse ela
pro inferno pra casa pra rua 
escrever um projeto de nação um poema um bilhete

que aqui não te quero mais
continuou ela 
do que um ano talvez uma noite
o tempo do sinal abrir o espaço entre os vãos dos dedos 
e "vão-se os dedos" etc.

chega
concluiu ela
mais perto para aí tá bom
não fica não 
some 
manda um zap pix pax
ciao


20/03/2022

hai-caí

Escuta:
Eu leio poemas de amor
Como quem bebe cicuta

19/03/2022

Lírica

Habitou em mim

Já há alguns anos

Um poeta com seus poemas.


Um poeta com seus poemas

Uns de amor outros de ódio

Que habitavam em seu corpoesia.


Já há alguns anos 

Que o poeta abandonou seu ofício:

Chafurdados num Brasil retrocedido

Não há palavra que demova

O que nos, dia-a-dia, atravessa.


Um dia, quando houver novamente vida,

Talvez o poeta com seus poemas

Retorne

E despeje no amanhã um punhado de lírica.