28/09/2022

Cena II

Adormeço em meus pensamentos

Como uma cama bagunçada

Enredado sonho um tempo diferente

Em que a vida abrigue em suas asas

Um princípio de paz.


Penso muito e logo tenho que existir:

Há o trabalho as contas o acre da terra 

A ser manejada a casa a ser limpa com cada

Coisa em seu lugar

Mas é tempo de homens partidos.


A quem está sujeito

Será necessário recolher os despojos

Do que sobrar de Brasil:

Uma canção meio esquecida/

Um poema não terminado.


É preciso remendar a esperança

Como quem costura uma ideia 

um plano uma rota

Com linha de ferro

Como agulha num palheiro.





26/09/2022

Cena

No varal, as roupas esperam

Não imóveis, tocadas pela brisa noturna

Aguardam que eu as retire

Descansam enquanto escrevo um poema de amor.

Mas não ouso, pois rasgo

Os poemas, as roupas jamais

Também eu não estou imobilizado:

Agitam-se em mim os pensamentos

Que não dissipo, reverbero.

Haverá um tempo de completa mudança

Não hoje não logo não sei:

Meus versos são inquietos

Como as roupas e o que penso.

Preso à minha classe e algumas roupas

Me custa caro ser brasileiro

E eu custo a ser eu.