segunda-feira
Procura
faço um caça-tesouro pela casa
procuro teus vestígios:
teu cheiro inda incensa o quarto
no espelho parece que te vi de relance
busco uma ninharia esquecida
e nada!
faço um caça-palavras pra passar o tempo
procuro teus predicados:
tua voz ecoando meu nome
vocativos que inventamos para nós
o verbo que pensamos e enfim dissemos
tudo!
sábado
As Cercanias do Amor
Construímos nossa casa nas cercanias do amor:
Ele era um bosque de mata aluvial
Onde se achava de angico à sarã
Saguis e cobras-cipó
E lambarizinhos nas sombras d'água.
Nossa casa ficava ali, ao lado do amor.
Adentrá-lo, só se fosse por um trieiro
Chão irregular, placa de orientação nenhuma
Era preciso coragem de se perder
Era preciso receio do que pudesse encontrar.
Tínhamos um jardim em nossa casa
Onde as plantas cresciam ordenadas:
Canteiros & vasos
Mas, logo logo ali do lado
No amor
O que crescia não sabíamos só de vista
Era preciso percorrer caminhos
Era preciso cheirar, tocar, provar do fruto
Ouvir o vento, assoviar aos pássaros.
Levantamos nossa casa no limite do amor.
Já se via brotos de ipê crescendo nela
Certa vez encontramos um ninho de sanhaço
Bem junto à cabeceira da cama
Outro dia uma paca pastava nossa ráfia:
Era preciso deixar que o amor tomasse a casa
Era preciso cultivar o inesperado, o que não previmos.
Já não sabíamos onde começava o amor.
As raízes de suas árvores já habitavam nossa sala
Pequenos répteis decoravam a parede do banheiro
E mesmo um pedacinho de rio brincava na varanda
Era preciso abrigar o que era natureza
Era preciso contemplar o que nascia em nós.