18/03/2024

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rasgo mapas
traço rotas
invento lugares
pra te ver
até que, afinal
fiquemos cerzidos os dois

11/03/2024

Procura

faço um caça-tesouro pela casa

procuro teus vestígios:

teu cheiro inda incensa o quarto 

no espelho parece que te vi de relance

busco uma ninharia esquecida

e nada!


faço um caça-palavras pra passar o tempo

procuro teus predicados: 

tua voz ecoando meu nome 

vocativos que inventamos para nós 

o verbo que pensamos e enfim dissemos

tudo!





03/03/2024

Milênios

Muito contigo eu aprendo:

Inspiras palavras que desconheço; 

Leio teus olhos, decifro tua voz

E no ocaso dos meus pensamentos

Não sei dizer nada mais que

Amor, amor, amor.


Meço o tamanho do que sinto e

Intento um novo sentimento:

Lembro de teus olhos, ouço tua voz  

Encontro em mim aquilo que 

Na verdade sempre soube existir:

Amor, amor, amor.


Mais do que isso, mesmo que eu esquecesse

Iria sempre ecoar em mim esse canto:

Louvo teus olhos, agradeço a tua voz

Espero tua chegada, presença que anseio

No peito ecoa o que me ensinaste:

Amor, amor, amor. 

02/03/2024

As Cercanias do Amor

Construímos nossa casa nas cercanias do amor:

Ele era um bosque de mata aluvial 

Onde se achava de angico à sarã

Saguis e cobras-cipó

E lambarizinhos nas sombras d'água.


Nossa casa ficava ali, ao lado do amor.

Adentrá-lo, só se fosse por um trieiro 

Chão irregular, placa de orientação nenhuma

Era preciso coragem de se perder

Era preciso receio do que pudesse encontrar.


Tínhamos um jardim em nossa casa

Onde as plantas cresciam ordenadas:

Canteiros & vasos

Mas, logo logo ali do lado

No amor

O que crescia não sabíamos só de vista 

Era preciso percorrer caminhos

Era preciso cheirar, tocar, provar do fruto 

Ouvir o vento, assoviar aos pássaros. 


Levantamos nossa casa no limite do amor. 

Já se via brotos de ipê crescendo nela 

Certa vez encontramos um ninho de sanhaço 

Bem junto à cabeceira da cama

Outro dia uma paca pastava nossa ráfia:

Era preciso deixar que o amor tomasse a casa

Era preciso cultivar o inesperado, o que não previmos.


Já não sabíamos onde começava o amor.

As raízes de suas árvores já habitavam nossa sala

Pequenos répteis decoravam a parede do banheiro

E mesmo um pedacinho de rio brincava na varanda

Era preciso abrigar o que era natureza

Era preciso contemplar o que nascia em nós.