sábado

As Cercanias do Amor

Construímos nossa casa nas cercanias do amor:

Ele era um bosque de mata aluvial 

Onde se achava de angico à sarã

Saguis e cobras-cipó

E lambarizinhos nas sombras d'água.


Nossa casa ficava ali, ao lado do amor.

Adentrá-lo, só se fosse por um trieiro 

Chão irregular, placa de orientação nenhuma

Era preciso coragem de se perder

Era preciso receio do que pudesse encontrar.


Tínhamos um jardim em nossa casa

Onde as plantas cresciam ordenadas:

Canteiros & vasos

Mas, logo logo ali do lado

No amor

O que crescia não sabíamos só de vista 

Era preciso percorrer caminhos

Era preciso cheirar, tocar, provar do fruto 

Ouvir o vento, assoviar aos pássaros. 


Levantamos nossa casa no limite do amor. 

Já se via brotos de ipê crescendo nela 

Certa vez encontramos um ninho de sanhaço 

Bem junto à cabeceira da cama

Outro dia uma paca pastava nossa ráfia:

Era preciso deixar que o amor tomasse a casa

Era preciso cultivar o inesperado, o que não previmos.


Já não sabíamos onde começava o amor.

As raízes de suas árvores já habitavam nossa sala

Pequenos répteis decoravam a parede do banheiro

E mesmo um pedacinho de rio brincava na varanda

Era preciso abrigar o que era natureza

Era preciso contemplar o que nascia em nós.