afixado na parede carcomida
de uma birosca em bairro decadente
se escrevia a seguinte frase:
amar com urgência, mas sem pressa
e eu, que corro afobado tentando chegar logo
que tropeço nas palavras (para quê tantas sílabas?)
que só leio haicais
me demorei lendo o que se dizia.
amar com urgência
como se houvera um dilúvio
e tivéssemos que escolher entre declarar o amor
ou nos afogarmos.
como se, em espaço sideral,
o astronauta suicida revelasse sua paixão
antes de tirar seu capacete.
mas sem pressa, que amor é pra ser arado
só ama quem crê no fruto da árvore inda não plantada
sem pressa, como amam as mães os filhos no ventre
como aguardo que repouses tua mão no meu sonho.