E N V I É S
08/04/2024
Cuiabá, 8 de Abril
18/03/2024
11/03/2024
Procura
faço um caça-tesouro pela casa
procuro teus vestígios:
teu cheiro inda incensa o quarto
no espelho parece que te vi de relance
busco uma ninharia esquecida
e nada!
faço um caça-palavras pra passar o tempo
procuro teus predicados:
tua voz ecoando meu nome
vocativos que inventamos para nós
o verbo que pensamos e enfim dissemos
tudo!
03/03/2024
Milênios
Muito contigo eu aprendo:
Inspiras palavras que desconheço;
Leio teus olhos, decifro tua voz
E no ocaso dos meus pensamentos
Não sei dizer nada mais que
Amor, amor, amor.
Meço o tamanho do que sinto e
Intento um novo sentimento:
Lembro de teus olhos, ouço tua voz
Encontro em mim aquilo que
Na verdade sempre soube existir:
Amor, amor, amor.
Mais do que isso, mesmo que eu esquecesse
Iria sempre ecoar em mim esse canto:
Louvo teus olhos, agradeço a tua voz
Espero tua chegada, presença que anseio
No peito ecoa o que me ensinaste:
Amor, amor, amor.
02/03/2024
As Cercanias do Amor
Construímos nossa casa nas cercanias do amor:
Ele era um bosque de mata aluvial
Onde se achava de angico à sarã
Saguis e cobras-cipó
E lambarizinhos nas sombras d'água.
Nossa casa ficava ali, ao lado do amor.
Adentrá-lo, só se fosse por um trieiro
Chão irregular, placa de orientação nenhuma
Era preciso coragem de se perder
Era preciso receio do que pudesse encontrar.
Tínhamos um jardim em nossa casa
Onde as plantas cresciam ordenadas:
Canteiros & vasos
Mas, logo logo ali do lado
No amor
O que crescia não sabíamos só de vista
Era preciso percorrer caminhos
Era preciso cheirar, tocar, provar do fruto
Ouvir o vento, assoviar aos pássaros.
Levantamos nossa casa no limite do amor.
Já se via brotos de ipê crescendo nela
Certa vez encontramos um ninho de sanhaço
Bem junto à cabeceira da cama
Outro dia uma paca pastava nossa ráfia:
Era preciso deixar que o amor tomasse a casa
Era preciso cultivar o inesperado, o que não previmos.
Já não sabíamos onde começava o amor.
As raízes de suas árvores já habitavam nossa sala
Pequenos répteis decoravam a parede do banheiro
E mesmo um pedacinho de rio brincava na varanda
Era preciso abrigar o que era natureza
Era preciso contemplar o que nascia em nós.
18/02/2024
saudade
15/02/2024
Eurídice
I.
Pela manhã, é teu cheiro que me desperta
como a primeira claridade do dia
como um sonho que eu já pressentia.
II.
Ficamos os dois enredados
trama complexa sobre o linho do lençol
natural que nos misturássemos:
cada pedaço de mim inda carrega
a matéria do que é feito nós
III.
Cuido teu sono como se pastoreasse
um rebanho de afetos
pela noite, o mistério do que somos
se desvela em tua respiração
no que não dizes, mas sei.
IV.
É preciso que nossos olhos se encontrem
no apagar do último dia
assim como é preciso
que um beijo de despedida
seja o devorador de um mundo
seja o criador de outro
V.
Houve a distância de centenas de quilômetros
algumas confissões tantas músicas uns poemas
e enfim nosso nome circunscrito na voz do outro
mãos cravejadas de possibilidades
bocas murmurando amor
VI.
Basta que eu feche meus olhos
para que tua voz reverbere por todos os meus pensamentos
basta que eu abra meus olhos
para que te sinta na presença das coisas todas que ainda não descobrimos
08/02/2024
Teu
aninhas-te no meu peito
"pra sentir tua respiração" dizes
mas bem sei que é para ouvires
meu coração sussurrar-te
todas as palavras que gostas de ouvir
todas as batidas como no samba que cantamos
trouxeste tuas coisas, fizeste morada em minha cabeça
e como se não houvesse tanto mais no que pensar
(há a morte o trabalho a guerra o salário)
dedico meus dias a observar-te os modos
tua pele muito branca as cores de teus vestidos
como se já soubesses desde sempre
que em mim caberiam todos os teus gestos
e eu sonho, amor, com o tempo de nós:
tudo o que há de ser construído
tudo o que há de ser elaborado
tudo o que há de ser vida
mas és tu que o realizas
tudo o que tocas tem teu nome
tudo o que amas em mim floresce
como se plantasses com tuas próprias mãos.
02/02/2024
Nocturno n.9
É noite e enquanto espero seu regresso
Escrevo um poema pago contas alimento o gato rego plantas
Lembro de um verso de Borges
No quintal conto algumas estrelas no céu
Escuto nossas playlists leio notícias rabisco à mão um bloco de anotações procuro no dicionário o significado de uma palavra que jamais usarei
Canto no tom aquele frevo axé
O relógio revela que é madrugada
Assisto vídeos nas redes sociais encho as forminhas de gelo verifico o aplicativo do banco deito sozinho
Fecho os olhos e finjo que você existe aqui
31/01/2024
Poema de Encuentro
cuando mis dedos en la mano derecha
encuentran el espacio entre tus dedos de la mano izquierda
cuando mi voz errante
descubre tus oídos atentos
cuando, juntos
vemos los primeros rayos de sol a través de la ventana
sabrás sin que yo te lo diga
que el amor nos trajo su primer ramo de esperanza