terça-feira

Dialética

pergunta se te amo desse jeito.
decerto que não:
amor não dá assim na gente
nem se identifica logo de cara
não tá na pele no gosto no cheiro
amor não se colhe nem se contrai
amor não é roupa que serve
e se não serve se remenda
nem é comida que esfria
e, passada a fome, se esquenta
pra de novo comer.
assim não te amo: procurando amor.

pergunta, e perceba o meu amor:
o vão entre os dedos
que se encaixam
revelando a imagem de um quebra-cabeça sentimental;
a voz, que de tua boca sai,
urgentes ondas sonoras
que logo chegam aos meus ouvidos
e o cérebro decodifica
- afeto e memória;
o olhar que se reconhece:
o amor habita na luz
quando me vê tal como eu sou
e quando te vejo e
tudo o que é.
amo o que está no tempo de nós
as horas, os dias, repetitivos como são,
ressignificados como os tornamos;
amo o espaço entre os dois
as cercanias dos corpos
o limite do que toca.
amo o que não somos:
as palavras que não dissemos
o futuro que não se deixa conhecer
assim te amo: encontrando em mim
o amor.