06/06/2021

Novíssimo Hino Nacional

Aguarda para ser identificado

Na sala de autópsia

Coberto por um pano de cor indefinida

O Brasil

Caberá a artistas fazer o reconhecimento

Desse corpo: 

Suas matas e rios

Seus bichos e céus

Mas também sua gente

Que lhe habita os intestinos e pulmões.


Depois de analisado

"É mesmo o Brasil quem morreu"

Deveremos enterrá-lo

Sem coroa de flores, homenagem ou cafezinho

Em vala comum, vala de brasileiro

Jogando sobre ele as terras todas

Quanto forem necessárias

Improdutivas e não-demarcadas

E deixá-lo ali descansando 

Sem jazigo que o represente.


Creremos, nós artistas, que dali

Brotará quem sabe num futuro longíquo

Uma árvore que frutifique

Raízes alimentadas da ideia de Brasil

E dê de comer aos pássaros 

Os novos habitantes desse lugar.


Depois de o Brasil morto e enterrado

Seguiremos com a lembrança do que

Poderia ter sido

E que nunca será: 

Rememoriaremos o Brasil boa-praça

Jeito menino sempre sonhando alto

E pronto a ajudar quem lhe necessitasse.


Quem sabe no futuro 

Não teremos um novo Brasil? 

Um filho bastardo

Vivendo escondido nos rincões por aí

Disposto a ser ele mesmo:


Um outro Brasil.