Em horas como essas
Quando a noite desvela seus mistérios
E o canto dos pássaros é agouro puro
É que cicio meus poemas
(Os versos que escrevi colhendo palavras frescas
As rimas que inventei catando cacos de sílabas)
E com as contas que carrego junto ao punho
recito outros poetas, os sórdidos e os
consagrados
Todas as palavras que aprendi
lendo mulheres e homens, poetas: como eu;
Vivos ou mortos: como eu;
Gente, sobretudo: como eu ou você.
São em horas como essas
Quando a luz precária dos postes
adornados de panfletos
Não ilumina o acaso o que há-de-vir
o que-será?
Que eu mastigo um verso esperançoso
Do qual me lembro apenas das palavras
- é tarde demais para as metáforas!
Que eu: punhos cerrados dentro do
bolso da calça
Enfrento o tempo o medo a cidade
- Um poema como patuá -
Carrego meu sonho de menino
A fé no futuro, no peito um coração
E você, como eu.